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Revitalização do Teatro Carlos Gomes

19/04/2024 - Comunicação NCD

O marco histórico da cultura blumenauense é construído no começo da colonização da cidade com a criação da Sociedade Teatral de Blumenau na rua das Palmeiras com a denominação de Sociedade Teatral Frohsinn. A pedra fundamental do Teatro Carlos Gomes, localizado na Rua XV de Novembro, lançada no dia 10 de dezembro de 1935 une a antiga Sociedade Teatral Frohsinn, com a Sociedade Liederkrantz e atualmente denomina Sociedade Dramático Musical Carlos Gomes. 




Fachada do Teatro Carlos Gomes 


Em 1939, a conclusão da primeira parte das obras do novo espaço cultural da cidade com salão de festas, restaurante e a inauguração do Teatro revela um incentivo importante de fomento da cultura na cidade. Em 5 de dezembro de 1942, a conclusão da sala de espetáculos, coxias e o palco giratório com 12 metros de diâmetro traz um novo conceito e inovação que ainda hoje é prerrogativa de poucos teatros brasileiros. A construção do Pequeno Auditório, escadarias, administração, hall principal, salas de apoio, salas de ensaio para música e dança em 1968 finalizam a proposta da estrutura que é palco de espetáculos e momentos memoráveis da cultura e história de Blumenau. Intervenções nas décadas de 1980, 1990 e no começo dos anos 2000 criaram uma conexão com um processo de restauro e reciclagem do Teatro que permaneceram até a atualidade. A renovação em 2024 inicia um processo de repaginação com um projeto de Reparo e Manutenção do Teatro Carlos Gomes.




Auditório Heinz Geyer 



Qual o significado de ser o arquiteto da revitalização do Teatro Carlos Gomes?

O Teatro tem uma representação muito profunda na cultura da cidade. O interesse pelas artes, especialmente pela música e pelo teatro, são aspectos importantes da cultura alemã trazida pelos imigrantes. Era algo comum, nas famílias da época, que todos pudessem tocar algum instrumento musical ou pudessem cantar. Não à toa, já no início da colônia, em 1859, temos a criação de um grupo que foi o embrião do futuro Teatro Carlos Gomes. Essa sociedade posteriormente se reorganizou e criou um Teatro na rua das Palmeiras, inaugurado em 1896 com a ópera “Uma Ideia Maluca”, pois alguns consideravam loucura haver um Teatro em uma colônia ainda tão nova. Em 1935 inicia-se a obra do atual Teatro, à rua 15 de novembro. Com a primeira etapa das obras concluída em 1939, adota-se também seu nome atual, Teatro Carlos Gomes. Desde então, o Teatro tem sido palco de importantes eventos, além de um ambiente de ensino de música, dança e teatro. Exemplar único e muito especial não apenas em Blumenau, mas em Santa Catarina, destaca-se por sua data de construção e por seu porte, não havendo outro equipamento similar do mesmo período em nosso estado. Neste contexto, ser o arquiteto responsável por renovar e ampliar um equipamento tão importante da história da nossa região é uma grande honra e uma grande responsabilidade. É a certeza de que vou deixar um legado para as gerações futuras.

 

Quais são os elementos preservados na tua proposta do Teatro Carlos Gomes de 1942?

Toda a arquitetura original do Teatro está sendo preservada nestas intervenções. Ao longo de sua história o Teatro Carlos Gomes de Blumenau passou por diversas reformas, intervenções e alterações de cor que não tiveram o cuidado de olhar para as reais origens estéticas desta edificação. Foram intervenções que miraram em períodos históricos errados e diminuíram a força natural do projeto do equipamento. O estilo Art Déco do Teatro de Blumenau mescla um evidente racionalismo arquitetônico geral a ornamentações muito econômicas e pontuais: ora com formas absolutamente geométricas, ora com molduras suavemente arredondadas emprestadas de estilos mais tradicionais. Com a Europa em guerra durante as décadas de 1930 e 1940, quando nosso Teatro foi construído, temos hoje uma tarefa mais árdua ao buscar por lá paralelos do mesmo período: sobraram poucos exemplares dentre os que foram destruídos. Se há poucos exemplos europeus, o mesmo não se pode falar dos exemplares norte-americanos do mesmo período. Com o advento das guerras, muitos arquitetos europeus migraram para o novo mundo. E é nas Américas que vamos encontrar bons exemplos de Teatros em estilo Art Déco. Seus interiores são sóbrios, densos e com ornamentações douradas. O que eu fiz foi ressaltar, com a paleta de cor certa e com o destaque das ornamentações, a estética que já existe no ambiente construído.

A primeira etapa, entregue em janeiro, do Grande Auditório todo remodelado trouxe insights de uma arquitetura cênica. Quais são os principais conceitos e repertório que trouxeram inspiração para esse processo criativo? 

Os conceitos contemporâneos de arquitetura cênica partem sempre de um ambiente de plateia mais escurecido, para que o foco da luz e da atenção esteja voltado à plateia. Isso não quer dizer que eventualmente não se possa iluminar a área da plateia para um espetáculo, mas isso deveria ser feito com canhões de luz específicos, e não com a iluminação geral. O corpo da edificação da plateia não pode interferir no espetáculo. Por isso, e também por conta da estética Art Déco, optei por trabalhar com tons escuros e sóbrios nas paredes.




Auditório Heinz Geyer 



A proposta tem um conceito contemporâneo. Qual o desafio de trazer a modernidade preservando a história?

O conceito contemporâneo está no pensamento, na linha de trabalho. Na verdade eu considero este um trabalho de “resgate”. Mas se trata de um resgate de algo que não existia, de algo que nunca foi feito, que é a finalização correta dos ambientes internos do Teatro de acordo com o universo estético de sua construção. Falaremos da contemporaneidade em diálogo com a história quando fizermos as futuras ampliações do equipamento.

 

Na revitalização do Salão de Festas e Auditório Heinz Geyer você apostou no escurecimento das paredes. Quais são as premissas que trazem essa proposta e a importância da iluminação nesse contexto?

Todo o trabalho no Teatro envolve um escurecimento das superfícies. Para haver drama, é preciso haver contraste. Para que uma decoração de um evento fique interessante, é importante que o fundo não se comunique com as pessoas. A cor escura faz isso, ela serve de fundo. No entanto, pintar um ambiente de escuro, por si só não resolve os problemas. Foi necessário um longo estudo, com muitas simulações, sobre como encontrar as linhas da arquitetura que não haviam sido desenhadas. Veja bem, no auditório, as molduras existem, os detalhes existem – o que eu fiz foi ressaltar o que já existia bem definido na arquitetura. Já no Salão de Festas, os detalhes não existem. É necessário buscar, na fachada do Teatro e na forma com que o Auditório foi ornamentado em sua época, a lógica para executar a ornamentação (neste caso, o emolduramento das esquadrias e a unificação de esquadrias que estão numa mesma linha vertical).



Salão de Festas Teatro Carlos Gomes 


Salão de Festas Teatro Carlos Gomes 






O arquiteto Thiago Mondini com a diretora do NCD Regional Vale, Magda Fioresi, e os lojistas Silvia e Silvio Spengler no momento de apresentação da  entrega de revitalização do Salão de Festas. 




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